Marcas e Repercussões Psíquicas da Violência Obstétrica em Mulheres: Um Estudo Exploratório Descritivo

Autores

DOI:

https://doi.org/10.20435/pssa.v1i1.2425

Palavras-chave:

violência contra a mulher, parto, saúde da mulher, saúde mental

Resumo

Introdução: A assistência ao parto passou por significativas transformações. Identifica-se, neste cenário, a violência obstétrica, definida como qualquer ato que cause dado físico ou psicológico à mulher, violando seu corpo, sua intimidade e seus direitos nas instituições de saúde. A partir disso, buscou-se analisar o sofrimento psíquico causado pela violência obstétrica em mulheres durante o trabalho de parto. Método: Trata-se de uma pesquisa de delineamento exploratório descritivo e abordagem qualitativa. Utilizou-se como instrumento de pesquisa um questionário semiestruturado elaborado na plataforma Google Forms. Como estratégia de análise de dados, empregou-se a Análise de Conteúdo de Bardin. Resultados e Discussão: Participaram nove mulheres que sofreram violência obstétrica, nos últimos dez anos, residentes de cidades no interior do estado do Rio Grande do Sul. Dividiram-se os resultados em três categorias temáticas: (des)conhecimento sobre a violência obstétrica no cenário de parto; marcas psíquicas da violência obstétrica; percepção das mulheres sobre a violência obstétrica. Discute-se, a partir disso, as repercussões psíquicas, a naturalização do fenômeno e suas variadas facetas. Considerações finais: A violência obstétrica produz diferentes níveis de sofrimento psíquico, tornando a experiência de parto uma vivência traumática permeada por sentimentos de frustração, raiva, medo, insegurança e invalidação de seus desejos/opiniões.

 

Biografia do Autor

Isadora Ferretti Gonçalves, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

Mestranda em Psicanálise: Clínica e Cultura pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Especialista em Urgência e Emergência pelo Programa de Residência Multiprofissional em Saúde do Hospital Santa Cruz. Pós-Graduada em Psicologia Hospitalar pela Faculdade Dom Alberto. Docente e Supervisora Acadêmica de Estágios Específicos em Psicologia na Universidade Luterana do Brasil (ULBRA).

Mariluza Sott Bender, Universidade de Santa Cruz do Sul

Doutoranda em Promoção de Saúde pela Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC). Mestra em Desenvolvimento Regional e em Psicologia pela Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC). Pós-Graduada em Psicologia Organizacional e do Trabalho pela Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), em Saúde Mental pela Faculdade Dom Alberto, em Psicologia Social e em Avaliação Psicológica e Psicodiagnóstico pela Faculdade Unyleya. Especialista em Urgência e Emergência pelo Programa de Residência Multiprofissional em Saúde do Hospital Santa Cruz. Docente do Departamento de Ciências da Saúde da Universidade de Santa Cruz do Sul.

Cristiana Rezende Gonçalves Caneda, Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)

Doutoranda em Psicologia pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Mestra em Psicologia Clínica pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS). Especialista em Clínica Psicanalítica pela Universidade Luterana do Brasil (ULBRA), e em Recursos Humanos pela Universidade da Região da Campanha (URCAMP).

Fernanda Borowsky da Rosa, Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)

Doutora em Distúrbios da Comunicação Humana pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Mestre em Ciências da Saúde pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM). Especialista em Motricidade Orofacial pelo Conselho Federal de Fonoaudiologia. Graduada em Fonoaudiologia pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).

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Publicado

2025-03-17

Como Citar

Ferretti Gonçalves, I., Sott Bender, M. ., Rezende Gonçalves Caneda, C. ., & Borowsky da Rosa, F. . (2025). Marcas e Repercussões Psíquicas da Violência Obstétrica em Mulheres: Um Estudo Exploratório Descritivo. Revista Psicologia E Saúde, 17, e17032425. https://doi.org/10.20435/pssa.v1i1.2425

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Artigos