O DSM-V e os Efeitos da Suspensão da Ontologia
DOI:
https://doi.org/10.20435/pssa.v12i1.837Palavras-chave:
saúde mental, ontologia, diagnóstico, DSMResumo
Este artigo apresenta uma crítica à suspensão das discussões ontológicas no DSM-V. O objetivo é defender a importância destas discussões teóricas no campo da psicopatologia através da diferença ontológica em Heidegger. Primeiro, pretende-se advertir que a suspensão de reflexões ontológicas tem por efeito a redução da experiência psicopatológica e a desvalorização da linguagem e da clínica em prol da supervalorização dos suportes materiais. Segundo, que a ausência de tais discussões não impede que uma ontologia implícita esteja operando e produza efeitos sociais. Para ilustrar esta questão, é abordada a noção do deficit de substância a ser restituída, que é a matriz basilar das hipóteses etiológicas orgânicas. Conclui-se que essa matriz convoca uma ética no estilo de uma essência a cumprir, a qual se acopla à lógica de consumo em uma sociedade que exige desempenho.
Referências
Abbagnano, N. (2007). Dicionário de filosofia (A. Bosi, Trad. da 1ª edição brasileira; I. C. Benedetti, Rev. e trad. dos novos textos). São Paulo: Martins Fontes.
American Psychiatric Association. (2014). Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. DSM-5. Porto Alegre: Artmed.
Aristóteles. (2001). Metafísica (G. Reale, Ensaio introdutório, texto grego; M. Perine, Trad. comentário da tradução para português). São Paulo: Edições Loyola.
Banzato, C. E. M., & Pereira, M. E. C. (2014). O lugar do diagnóstico na clínica psiquiátrica. In Rafaela Zorzanelli, Benilton Bezerra Jr., & Jurandir Freire Costa (Org.), A criação de diagnósticos na psiquiatria contemporânea (1a ed., pp. 35-54). Rio de Janeiro: Garamond.
Bezerra, B., Jr. (2014) Introdução – A psiquiatria contemporânea e seus desafios. In R. Zorzanelli, B. Bezerra Jr., & J. F. Costa (Orgs.). A criação de diagnósticos na psiquiatria contemporânea (1a ed., pp. 9-31). Rio de Janeiro: Garamond.
Brendel, D. H. (2006). Healing psychiatry: Bridging the science/humanism divide. Cambridge: The MIT Press.
Cetran, H. P. (2006). Fundamentos antropológicos de la psicopatología. Madrid: Ediciones Polifemo.
Conrad, P. (2007). The medicalization of society: On the transformation of human conditions into treatable disorders. Baltimore: The John Hopkins University Press.
Cooper, J. E. (1972). Psychiatric diagnosis in New York and London: A comparative study of mental hospital admissions. Oxford: Oxford University Press.
Coser, O. (2003). Depressão: Clínica, crítica e ética [on-line]. [Coleção Loucura & Civilização]. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz. Disponível em: http://books.scielo.org/id/6gsm7.
Cosgrove, L., & Krimsky, S. (2012). A comparison of DSM-IV and DSM-5 panel members’ financial associations with industry: A pernicious problem persists. Plos Medicine, 9(3), e1001190.
Dunker, C. I. L. (2011). Mal-estar, sofrimento e sintoma: Releitura da diagnóstica lacaniana a partir do perspectivismo animista. Tempo Social, 23(1), 115-136. Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-20702011000100006&script=sci_abstract&tlng=pt
Dunker, C. I. L. (2014a). A neurose como encruzilhada narrativa: Psicopatologia psicanalítica e diagnóstica psiquiátrica. In R. Zorzanelli, B. Bezerra Jr., & J. F. Costa (Org.). A criação de diagnósticos na psiquiatria contemporânea (1a ed., pp. 69-103). Rio de Janeiro: Garamond.
Dunker, C. I. L. (2014b). Questões entre a psicanálise e o DSM. Jornal de Psicanálise, 47(87), 79-107. Disponível em http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-58352014000200006&lng=pt&tlng=pt
Ehrenberg, A. (2010). O culto da performance: Da aventura empreendedora à depressão nervosa (P. F. Bendassolli, Org. e trad.). Aparecida, SP: Ideias e Letras.
Frances, A. (2013). Saving normal. New York: Harper Collins.
Gaines, A. D. (1992). From DSM I to DSM II; voices of self, mastery and the other: A cultural constructivist reading of U.S. psychiatric classification. Social Science & Medicine, 35(1), 3-24.
Gonçalves, A. M. N., Dantas, C. R., & Banzato, C. E. M. (2015). Valores conflitantes na produção do DSM-5: O “caso” da síndrome psicótica atenuada. Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental, 18(1), 139-151. doi: https://dx.doi.org/10.1590/1415-4714.2015v18n1p139.10
Hacking, I. (2000). The social construction of what. Cambridge: Harvard University Press.
Han, B.-C. (2017). Agonia do eros. (E. P. Giachini, Trad.). Petrópolis, RJ: Vozes.
Heidegger, M. (1991). Carta sobre o humanismo. (R. E. Frias, Trad., 1a ed.). São Paulo: Moraes. (Trabalho original publicado em 1946).
Heidegger, M. (1999). Qu’est-ce la philosophie? In M. Heidegger. Conferências e escritos filosóficos (E. Stein, Trad. e notas). São Paulo: Nova Cultural. (Trabalho originalmente publicado em 1955).
Heidegger, M. (2012). Ser e tempo (F. Castilho, Trad., org., nota prévia, anexos e notas). Campinas, SP: Editora da Unicamp; Petrópolis, RJ: Vozes. (Trabalho original publicado em 1927).
Heidegger, M. (2017). Seminários de Zollikon: Protocolos, diálogos, cartas (3a ed. rev.; M. Boss, Ed.; G. Arnhold, & M. F. A. Prado, Trad.; M. F. A. Prado, & R. Kirchner, Rev. da trad.). São Paulo: Escuta. (Seminário pronunciado entre os anos de 1959 e 1969).
Kirmayer, L. J. (2005). Culture, context and experience in psychiatric diagnosis. Psychopatology, 38(4), 192-196.
Levinas, E. (1980). Totalidade e infinito (J. P. Ribeiro, Trad., 3a ed.). Lisboa: Ed. 70.
Manifesto por uma psicopatologia clínica não estatística. (2013). Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental, 16(3), 361-372. (Barcelona, 2011, 14 de Abril). Disponível em https://dx.doi.org/10.1590/S1415-47142013000300001
Manifesto de São João del-Rei (2011, Agosto). Brasil. Em prol de uma psicopatologia Clínica. Disponível em http://stopdsm.blogspot.com/2011/08/em-prol-de-uma-psicopatologia-clinica.html.
Nathan, T. (1996). Entrevista com Tobie Nathan. Cadernos de Subjetividade, 4, 9-19.
Pereira, M. E. C. (2000). A paixão nos tempos do DSM: Sobre o recorte operacional do campo da psicopatologia. In R. Pacheco Filho, N. Coelho Junior, & M. D. Rosa (Org.). Ciência, pesquisa, representação em psicanálise (pp. 119-152). São Paulo: Educ/Casa do Psicólogo.
Pereira, M. E. C. (2014). A crise da psiquiatria centrada no diagnóstico e o futuro da clínica psiquiátrica: Psicopatologia, antropologia médica e o sujeito da psicanálise. Physis: Revista de Saúde Coletiva, 24(4), 1035-1052. doi: https://dx.doi.org/10.1590/S0103-73312014000400004.
Sadler, J. (2013). Considering the economy of DSM alternatives. In J. Paris, & J. Philips (Org.), Making the DSM-5: Concepts and controversies (pp. 21-38). New York: Springer.
Safatle, V. (2007). A teoria das pulsões como ontologia negativa. Discurso, 36, 151-192. doi: https://doi.org/10.11606/issn.2318-8863.discurso.2007.38076.
Shorter, E. (2013). The history of DSM. In J. PARIS, & J. Philips (Org.), Making the DSM-5: Concepts and controversies (pp. 03-19). New York: Springer.
Stein, E. (1976). Melancolia: Ensaios sobre a finitude no pensamento ocidental. Porto Alegre: Movimento.
Szasz, T. (1991). Diagnoses are not diseases. Lancet, 338(8782-8783), 1.574-1.576.
Waters, E. (2011). Crazy like us: The globalization of the American Psyche. New York: Simon and Schuster.
Wendling, M. M., & Coelho, D. M. (2016). Do “não ceder de seu desejo” ao “bem-dizer o desejo”: Considerações acerca da ética em Lacan. Fractal: Revista de Psicologia, 28(1), 139-145. doi: https://dx.doi.org/10.1590/1984-0292/1045.
Zorzanelli, R., Dalgalarrondo, P., & Banzato, C. E. M. (2014). O projeto Research Domain Criteria e o abandono da tradição psicopatológica. Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental, 17(2), 328-341. doi: https://dx.doi.org/10.1590/1984-0381v17n2a12.
Zorzanelli, R. (2014). Sobre os DSMs como objeto cultural. In R. Zorzanelli, B. Bezerra Jr., & J. F. Costa (Org.). A criação de diagnósticos na psiquiatria contemporânea (1a ed., pp. 55-68). Rio de Janeiro: Garamond.
Arquivos adicionais
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Os artigos publicados na Revista Psicologia e Saúde têm acesso aberto (Open Access) sob a licença Creative Commons Attribution, que permite uso, distribuição e reprodução em qualquer meio, sem restrições, desde que o trabalho original seja corretamente citado.